janeiro 29, 2002

post copiado do blog da tiz. obrigado novamente pela permissão de colocar aqui, tiz! ;-):

segunda-feira, janeiro 28
02:39:
ok. Clube da Luta. é tudo. é perfeito. é o tipo de filme que me faz pensar. em tudo. na minha vida. nos meus motivos. nos meus valores. é o tipo de filme que você tem que ter em casa para assistir sempre, todas as semanas se possível. para constantemente se lembrar. para se reencontrar. para se questionar. e tentar mudar alguma coisa, fazer alguma diferença. descobrir o seu outro eu. lutar contra suas próprias idéias. refletir. falta reflexão nesse lugar onde estamos. engolimos tudo mastigado, às vezes até mesmo digerido. só absorvemos. e nem ao menos nos preocupamos com o que desce goela abaixo. agrotóxicos? frituras? açuuuucar. não perguntamos mais. não nos perguntamos mais. entalados. somos parasitas. esse tipo de filme me deixa alterada, verdade. por isso que eu deveria assistir toda semana. para tentar me acordar. estou dormindo ainda. não desligaram meu plug. ao menos tenho um mínimo de consciência. e é esse o espírito que eu tenho que carregar comigo. o espírito de querer evoluir. começar do zero a cada dia. jogar tudo para o alto. não posso estacionar, parar. é preciso buscar o progresso interior. nunca vamos nos sentir completos de fato, acredito eu. e se um dia nos sentirmos assim, significa que nos acomodamos. paramos em um lance de escadas onde nos iludimos dizendo a nós mesmos que chegamos ao fim. e vai chegar uma hora, em que esse lance de escadas vai estar entupido de coisas que vamos adquirindo e deixando por lá, criando raizes, até que quando não couber mais nada vamos dizer que nos sentimos completos, plenos, satisfeitos. vemos aquilo que queremos. por medo de falhar, por medo de sermos incapazes? será que não conseguimos por não acreditar que é possível? não sei. simplesmente é assim. olhe à sua volta. a "plenitude" das pessoas está no lance de escadas caracterizado por um trabalho que renda um bom salário fixo e que te dê direito a alguns luxos, um bom carro, uma bela casa, filhos, um cachorro, um companheiro fiel e agradável aos olhos e no mínimo uma viagem por ano para algum lugar interessante, nas férias. depois que você consegue "tudo" isso, você pode morrer feliz e completo. e é isso? não. é deprimente. me dá desespero pensar que eu não sou capaz de subir mais alguns degraus. eu ainda tenho as duas pernas!!! será que as perguntas que eu faço não me levam a lugar nenhum? serão meus questionamentos infundados, vazios? minhas dúvidas inúteis, frutos de perguntas incorretas? deveriam ser reformuladas? isso tudo faz sentido? será que eu não vou cair na tentação de colocar diante dos meus olhos a realidade do contentamento? é possível escapar, sair da multidão, apagar os registros?


eu não faço sentido para os meus próprios sentidos.
será que a primeira e a segunda regra do Clube da Vida é não fazer nenhuma pergunta a respeito do Clube da Vida?


É muito bom ler algo que faz a gente voltar a refletir em algumas coisas de nossa própria vida! A inquietação e tudo mais. Porque eu fiquei relembrando, ao ler o post da tiz, sobre um monte de coisa que vi e li e ouvi e discuti.

Lembrou-me desse Robert Kiyosaki, como vocês podem ler no paper que escrevi para uma matéria da faculdade (da cadeira de Marketing! aquela matéria só valeu pela leitura desse livro!). E ele diz exatamente aquilo que a tiz colocou, ter um trabalho que lhe renda um bom salário, ter sua família, suas férias e ser feliz com isso. Mas será que é só isso? - essa é a questão. E o autor diz que não, mas a solução dele é a de se aprofundar e conhecer como funciona o sistema, o cerne do capitalismo, qual seja, a busca do aprendizado financeiro para descobrir as oportunidades que existem no mundo dos mercados. É, o sistema não irá mudar, você é quem tem que se adaptar a ele!
Para a esquerda de hoje isso deve soar como um ultraje. Como pode um sistema como o capitalista contemplar a tantas pessoas ao mesmo tempo? Mas o próprio Kiyosaki bem coloca, que o problema está na educação da sociedade, se ela fosse educada desde cedo para entender o funcionamento do mundo capitalista, de alguma forma elas teria uma chance nesse mundo.
Mas aí volta o Marx, mais o Giddens, se não me engano era esse sociólogo de quem eu estava tentando lembrar (mas vou pesquisar novamente os textos que tenho na casa de meus pais), mas voltando ao fio da meada. Marx já dizia que a educação, inserida dentro do sistema, só tende a perpetuar o que existe, o sistema de contrastes capitalista, onde uns poucos têm muito, e a grande maioria tem muito pouco (essa é velha...). E o próprio Kiyosaki coloca que são os ricos que acabam por ensinar seus filhos a vencer a 'batalha' e ganhar mais e mais, enquanto nas escolas as crianças continuam a aprender a 'ter um trabalho honesto, ganhar um salário, pagar suas contas' etc. São poucos os privilegiados que chegam e fazem acontecer nessas condições.
Mas e as contradições? O que fazer para mudar isso? Peter Drucker escreveu um livro falando do Terceiro Setor, ONG's e serviços assistenciais, dizendo que esta seria uma forma de reduzir tais contrastes, que seria a saída para que os 'excluídos' fossem cuidados de alguma forma. Será? Será que dessa forma os descontentes se sentiriam confortáveis, num mundo de dinheito e poder, sendo consolados pelos que tem, mostrando que eles não conseguiram vencer no 'jogo' capitalista?
Só que o socialismo está perdido hoje. Veja a Europa Oriental, veja as ex-repúblicas soviéticas como se encontram hoje. Mas esses não foram o socialismo idealizado por Marx. Ele dizia que do próprio contraste existente do sistema capitalista surgiria a semente a partir da qual nasceria o novo sistema. E que quem deveria liderar era o proletariado, o lado da corda que sempre sofreu para que os poucos ganhassem o que ganhavam na compra e venda de mercadorias ( a mais-valia ). Será que são os proletários mesmo que deveriam iniciar tal mudança? Qual a educação que eles recebem?
Não cabe, creio eu, criticar o sistema educacional no nosso país. Muito poderia ter sido feito? Poderia, mas não foi. Detesto aquela máxima, mas vá lá, cada povo tem o governo que merece. Como passar por cima de mais de 500 anos de história? 'vemos aquilo que queremos'. Nossa percepção é seletiva, como já dizem os psicólogos (valeram as aulas de introcução a psicologia! ;-) ), percebemos melhor aquilo que nos é familiar, que vemos em nosso cotidiano. E como tem sido nossas vidas? Os militares deixaram o governo, mas a lavagem cerebral percorre gerações de jovens nesta pátria.
E não devemos nos preocupar com os 'excluídos'? Claro que devemos, eles devem ser ajudados de alguma forma! Culpar o Estado? Antes, quem colocou os governantes lá? É culpar a si mesmo, em última instância, afinal conivência também é crime!

...

Nossa, escrevi demais! Mas essa discussão não se encerra aqui. Tem mais, tem muito mais, mas agora preciso ir dormir!
Té mais!

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