outubro 05, 2002

há quatro anos, em 1998, foi a primeira vez em que votei em uma eleição.

votei no Fernando Henrique. dar continuidade a seus projetos, o Brasil precisava disso, naquele momento. muita coisa mudou dos anos militares e Sarney para cá. abertura econômica feita pelo Fernando Collor, estabilidade econômica por meio do controle da inflação do governo de Fernando Henrique. seguimos uma cartilha escrita por economistas do mundo desenvolvido, e hoje enfrentamos problemas por causa disso.

ter aberto a economia para empresas internacionais foi bom e ruim. bom porque trouxe produtos que de outra forma demorariam para produzirmos ou jamais o teríamos por aqui, dada a tecnologia necessária para produzi-los. ruim porque diversas indústrias em setores importantes foram simplesmente aniquiladas pelas concorrentes de fora, ou foram compradas por elas.

o que sobrou? uma dependência do capital externo. manter os juros altos era uma forma de manter esse capital aqui. mas a crise em mercados emergentes, como México, Rússia, Turquia, forçaram o governo de Fernando Henrique liberar o câmbio em janeiro de 99, início da segunda gestão.

e eu lembro bem disso. meus pais estavam pagando as prestações do Corsa, reajustados pelo dólar, opção que parecia mais vantajosa quando da compra, em contrato de leasing. mas veio a desvalorização do real frente ao dólar, e minha mãe pagou o dobro do valor da prestação por uns dois meses seguidos, até estabilizar nuns 50% acima dos valores anteriormente pagos.

mas a história começou em 98, antes das eleições, quando o então presidente dos EE.UU. Clinton ajudou o Brasil a controlar a pressão sobre o câmbio e permitiu uma campanha eleitoral sem sustos para o governo poder se reeleger. para Fernando Henrique se reeleger.

meus pais devem ter pago entre 1,5 e 1,8 vezes o valor do carro. mas era em nome da estabilidade, e o medo de voltar àquela época de inflação e reajuste dos preços todos os dias.

falam das privatizações, do mal em tê-las feito, desfazendo-nos de importantes empresas nacionais, vendidas a consórcios entre empresas nacionais e estrangeiras. mas era preciso, afinal mover um elefante com tanto peso em cima era realmente difícil, mas talvez não da forma como foi feito.

falam da dívida externa, e é verdade. mas é a economia de hoje, o mundo capitalista. como podemos crescer se não seguirmos as regras do jogo? somos dependentes, essa é a grande verdade, e hoje, mais do que ontem, não sobreviveremos sem o capital externo.

re-nacionalizar as empresas é dar um passo para trás, na minha opinião. deixar de pagar a dívida, também. posso estar cego para alguns pontos, é verdade.

hoje vemos a vizinha Argentina sofrendo para reerguer sua economia. seguiram a cartilha quase à risca e estão pagando caro por isso. e, por causa deles, sabemos hoje que a cartilha não beneficia os países em desenvolvimento. antes de tudo ela beneficia as empresas multinacionais e seus países de origem, os mesmos que controlam o FMI, o Banco Mundial e a OMC. mas não deveria ser de se estranhar essas instituições verem mais o lado dos países desenvolvidos que dos demais. seus profissionais são formados por instituições desses países, o que leva a crer que defendem os interesses de lá e não os de cá. isso quem disse não fui eu, mas o Joseph E. Stiglitz, prêmio Nobel de Economia do ano passado, em seu livro "Globalização e seus malefícios". a questão dos produtos agrícolas, por exemplo, a OMC não chega nem perto de punir os países europeus e os EE.UU. sobre esse assunto. nem precisa ir tão a fundo. o aço americano é um exemplo que está mais fresco na memória.

se Keynes está se remexendo no túmulo com o papel que o FMI (correção - e não a OMC como havia colocado anteriormente) exerce hoje na economia mundial, Porter, que está bem vivo, deve estar se perguntando de que servem estudos minuciosos sobre a competitividade das nações para pessoas que não costumam aprender dos próprios erros. e, cá entre nós, bem que poderíamos aprender com o que Porter ensinou para melhorarmos nossa condição.

amanhã é dia de eleição... espero que o voto de todos seja consciente.
té mais!

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