abril 15, 2006

Os Ombros Suportam o Mundo - Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

eu costumava postar às vezes uma letra de música que gosto ou um poema de algum autor que me chamou a atenção. essa semana a Renata, minha amiga de Itu, colocou em seu blog um poema de Augusto dos Anjos, 'Versos Íntimos', que há muito eu não lia ou ouvia. a última vez foi em plena sala do cursinho do Anglo, lá na r. Tamandaré. o querido professor de Geografia do Brasil, Axé (creio que era assim que se chamava) o declamou no meio da aula para a turma do semi noturno de Humanas. à parte o poema, percebi o quanto deixei de lado os poemas e músicas deste blog, de modo que volto a fazê-lo com este poema de Drummond que está na Antologia poética, da Editora Record.

fato é que pouco tenho parado para ouvir música ou ler poemas. como minha leitura atualmente se resume ao 'Don Quijote', não tenho tido tempo de ler os tantos livros de poesia que tenho aqui, Neruda e Vinicius entre eles. e quanto a música, comprei uns cds, ganhei outros, mas não tenho prestado atenção como antes. quando muito coloco a velha playlist do winamp para tocar e fico ouvindo as músicas de sempre. mudar isso no momento me parece altamente penoso, mas quem sabe só o fato de ter me percebido assim já não me faça mudar. ao menos estou pensando em voltar a postar uma música ou um poema por mês aqui no blog, assim mantenho este espaço sendo atualizado e procuro ouvir os cds que estão ganhando poeira pela sala. rs

té mais!

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